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Dupla personalidade, uma doença resultado do trauma

Existem acontecimentos, fatos que ficam marcados na vida de uma pessoa e que ela acaba carregando consigo pelo resto de sua existência. Isso vale tanto para as coisas boas que acabam resultando em uma personalidade mais segura e firme, enfim em uma pessoa pró-ativa, realizadora, quanto para coisas ruins que, se não forem devidamente, assimiladas, acabam gerando traumas muito profundos e difíceis de serem resolvidos. Muitos deles geram doenças de personalidade. Uma delas é o transtorno de dupla personalidade, personalidade múltipla ou transtorno dissociativo de identidade.

O transtorno de dupla personalidade trata-se de uma incapacidade de a pessoa se recordar de informações e comportamentos pessoais ou tem sintomas de amnésia, o que gera confusão quando faz certos relatos que eles cometeram e que dizem que foi cometido por outra pessoa ou personalidade coexistente. Seria como se diversas personalidades convivessem no mesmo corpo. Normalmente elas não têm plena consciência de que coexiste com diversas personalidades. Os primeiros estudos sobre esse problema surgiram por volta de 1816 e, posteriormente, por meio dos casos com pseudônimo Juliette, apresentado pelo psicólogo clínico francês Pierre Janet e com o pseudônimo Christine Beauchamp, relato na obra “The Dissociation of Personality” ou “Dissociação da Personalidade”, de 1906, escrito pelo escritor americano Morton Prince.

Quando se fala de coexistência de diversas personalidades, o fenômeno é bem mais complexo do que se pensa. Cada personalidade é completa, com suas próprias memórias, formas de comportamento, completamente diferente uma da outra, assim pode ocorrer de uma personalidade ser completamente promíscua e outra não e elas vão se alternando, o que gera sérios problemas de convívio social. Vale lembrar que em situações normais todos nós desempenhamos diversos papéis na sociedade. Seja como pai, filho, mãe, filha, esposa, esposo, no desempenho de nossa profissão, enfim todos os papéis convivendo em harmonia. O problema surge quando por uma experiência traumática, ocorre uma desarmonia nesses papéis. Assim, uma pessoa tímida e que deseje se tornar mais sociável pode criar uma personalidade secundária que seja mais sociável, o que seria o começo da síndrome.

Traumas impactantes

As pessoas que sofrem desse mal, são aquelas que passaram por traumas muito fortes que foram resultados de experiências muito ruins e com muita reincidência. Evidentemente que isso não constitui uma regra geral, pois muitas pessoas se fortalecem pelo sofrimento, amadurecem, crescem, no entanto nem todos os indivíduos são iguais, ou seja, enquanto uns assimilam determinada experiência difícil de uma forma, outros, por não ter a mesma estrutura psíquica, assimilam de outra forma. O que se observa que o transtorno da dupla personalidade está diretamente ligado a traumas que a pessoa vivenciou antes dos sete anos de idade, portanto, na infância, em seu período de formação. Normalmente está relacionado a incestos, abusos sexuais ou qualquer experiência que tenha provocado estresse pós-traumático.

Transtorno retratado na literatura e no cinema

O transtorno de dupla personalidade não se limitou a ficar restrito ao estudo da psiquiatria, ele se tornou tema de literatura, mais especificamente do livro “O médico e o monstro”, de Robert Louis Stevenson, em que retrata que o Dr. Jekill e Mr Hyde são a mesma pessoa. Na obra, o autor criou uma alegoria sobre a parte de nós mesmos que não desejamos que os outros descubram, mas que não podemos rejeitar totalmente. Tempos depois, esse tema foi novamente abordado, em “Psicose”, de Alfred Hitchock e, anos depois por “Eu, eu mesmo e Irene”, “O incrível Hulk” e pelo “Clube da luta”. Novamente na literatura, temos o caso exemplar de Fernando Pessoa e seus heterônimos, um completamente diferente do outro, mas que conviviam harmoniosamente.

Mediunidade descontrolada, segundo os espíritas

Os espíritas têm uma visão muito interessante sobre essa síndrome. Segundo o escritor espírita Hermínio Miranda, o transtorno de dupla personalidade não seria uma psicose, nem neurose, mas mediunidade descontrolada, mal desenvolvida. Nesse caso, ela pode levar a pessoa ao suicídio, ou a praticar crimes enquanto as personalidades fazem rodízio. Para sanar esse problema, somente por meio do estudo e da preparação, o médium conseguirá controlar essas passividades, deixando que elas se comuniquem apenas no momento apropriado.

Há tratamento?

A única maneira de se tratar dessa síndrome, do ponto de vista da psicanálise, é por meio da psicoterapia, de orientação analítica ou comportamental, e da psicanálise. Vale lembrar que, como raramente a pessoa tem consciência do que passa, ela é estimulada por amigos, familiares e parentes, que de fora sofrem as consequências e se sentem incomodadas.

Vale destacar, portanto, que todos nós, desempenhamos diversos papéis na sociedade, como se fossem várias personalidades, e que a síndrome seria apenas a desarmonia desses papéis, provocados por situações traumáticas. De qualquer forma, esse transtorno mostra a responsabilidade que todos nós temos, principalmente se somos pais ou mães, de não gerar traumas em nossos filhos, para que não entrem nesse processo que, muitas vezes, se não tratado a tempo, pode levar o sujeito a morte. Essa é a complexidade humana.

 

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