Toda vez que ouvimos ou simplesmente vemos uma orquestra tocando qual é a sensação que nos passa? Se a observamos isoladamente cada elemento, vemos que há instrumentos de todo tipo, de sopro, percussão, cordas, ou seja, verificamos que há diferenças, mas que, em conjunto, essas diferenças acabam sumindo, dando uma coesão, uma unidade que se materializa por meio de uma produção musical. No entanto, quem dá essa coesão? É o maestro, o regente. Outra leitura que podemos fazer é estabelecer uma analogia entre uma orquestra e um corpo humano. Os instrumentos, seriam os diversos órgãos existentes no corpo e quem seria o maestro? O cérebro. Agora imagine se esse cérebro apresenta problemas? Certamente cada instrumento tocará em desarmonia e a música, certamente não se manifestará. Tal situação se assemelha muito com um problema que afeta esse importante órgão do organismo: o mal de parkinson.
O mal de parkinson trata-se de uma doença que se manifesta no sistema nervoso central e que incapacita o cérebro de controlar os movimentos. Com isso, algumas atividades consideradas triviais em nosso cotidiano, e que eram consideradas fáceis de serem executadas, começam a mostrar um grau de dificuldade inesperada. Nesse contexto se enquadram o ato de beber água em um copo se torna quase que impossível, pois essa doença degenera os neurônios dopaminégicos, responsáveis por esse movimento.
No entanto, como perceber os primeiros sintomas dessa doença?
Os primeiros sinais
Os sintomas do mal de Parkinson se dividem em motores e não motores. Os sintomas motores começam a aparecer quando uma pessoa começa a apresentar tremores. Nesse caso é importante observar quando ela treme quando está parada e para de tremer quando movimento o corpo, isso representa 70% dos casos. Esses tremores começam a se tornar perceptíveis quando afeta uma das mãos e caracteriza-se pelo movimento entre o dedo indicador e o polegar como se estivesse contando dinheiro. Outro sinal que deve ser observado são os movimentos lentos. Conhecido como Bradicinésia, faz com que a pessoa se sinta muito cansada, com fraqueza e uma sensação de falta de coordenação motora. Com o tempo a pessoa começa a sentir uma incapacidade de se levantar e passada de seu caminhar passa a ser mais lenta e curta. Outro sinal é que seus músculos tornam-se rígidos, inicialmente em apenas um lado do corpo até progredir para o outro lado, o que além de limitar os movimentos, provoca muita dor. Mais para frente, a pessoa começa a apresentar uma dificuldade muito grande de permanecer em pé. Daí em diante outras manifestações da doença aparecem como a perda da expressão facial, os olhos começam a piscar menos, a visão fica borrada, a salivação aumenta e ocorre a incontinência urinária.
Os considerados sintomas não motores são: as alterações do sono, depressão, ansiedade, memória fraca, perda do olfato, demência, psicose, dificuldade para urinar, impotência sexual, raciocínio lento e apatia.
Perfil das vítimas
Normalmente essa doença ataca, com mais incidência, as pessoas idosas, com início na faixa etária dos 60 anos; pessoas que tenham tido parentes com a doença; que tenham tido algum trauma craniano, como no caso dos boxeadores e que tenham tido contato com um determinado tipo de agrotóxico.
Como se tratar?
É bom lembrar que o Parkinson é uma doença incurável, e que somente se manifesta quando há destruição de 80% dos neurônios. Por isso, o que o tratamento pode fazer é controlar os sintomas. Esse controle é possível mediante o uso da droga Sinemet, composta da junção das substâncias levodopa com carbidopa, que ingerida, se transforma em dopamina no cérebro. Há outras que também provocam esse mesmo processo, tais como a bromocriptina, parmipexol e ropinirol. No entanto, não basta apenas a ingestão de remédios, é importante também que se faça exercícios regularmente para retardar os sintomas motores da doença.
Como se adaptar a conviver com essa doença
O fato de essa doença ser incurável requer da pessoa afetada, uma intensa reprogramação psicológica, afinal terá que conviver com esse mal durante toda sua vida. Nesse aspecto, dentro de suas limitações, é fundamental que procure sempre fazer o que melhor que puder e, mais importante, encarar a doença de frente, sem subterfúrgios.
Um exemplo muito significativo de uma pessoa que aprendeu a conviver de maneira positiva com a doença, sem se deixar abalar é, sem dúvida, o ator e diretor Paulo José. Com 73 anos de idade e 61 de carreira, convive com o mal de Parkinson há 17 anos e o que se vê é que o veterano ator aprendeu a conviver bem com a doença. Tanto que a chama ironicamente de “Parkinson de diversões” e o que é mais importante, continua trabalhando como nunca e produzindo muito. A despeito de sempre encarar a doença com leveza, isso não quer dizer que a negligencie. Na realidade, se submete diariamente a uma rotina pesada de exercícios e terapias, toma regularmente seus medicamentos. Em 2007 submeteu-se a uma delicada cirurgia para introduzir em seu cérebro um marca-passo. Desde quando foi acometido pela doença lá em meados dos anos 1990, Paulo teve que passar situações muito constrangedoras. Segundo ele, primeiro ele ficou meio atabalhoado, vagaroso, em seguida começou a se desequilibrar facilmente, depois perdeu a coordenação motora, sujar a roupa quando comia manga, sentia embaraço para realizar atividades corriqueiras, como digitar, pegar algum objeto, cruzar as pernas, depois teve uma série de esquecimentos, algo fatal para um ator. Aos poucos com o tratamento e depois com a cirurgia, conseguiu atenuar sua situação. Para não transparecer tanto sua situação em cena, o ator criou alguns truques. Ali no palco, busca sempre um ponto de apoio, um lugar em que possa repousar os braços ou pelo menos encostá-lo. Esse simples gesto é suficiente para aliviar a rigidez muscular e ganhar equilíbrio. Caso uma de suas mãos suba involuntariamente, rumo a cabeça, disfarça coçando o nariz ou a orelha. Além disso, Paulo tem tido o cuidado na escolha de papéis, dando preferência a personagens bizarros, como bufões, doidos e bêbados. Como vive da voz, faz uma série de exercícios vocais com fonoaudióloga, uma vez que o Parkinson enrijece sensivelmente as cordas vocais.
Com uma disciplina impressionante, o ator Paulo José já vai ultrapassando a barreira dos 70 anos e mostrando que nenhuma limitação impede alguém de viver e produzir, enfim de viver uma vida normal. Tudo depende realmente da determinação e da importância que cada um dá para esse mistério infindável que é a vida.