Nosso corpo é uma máquina que está em constante atividade, até mesmo durante o sono, pois reações de liberação de hormônios ocorrem nesse período de descanso e nosso cérebro continua ativo enquanto dormimos. Durante as décadas de 70 e 80, acreditava-se que dormir apenas cinco horas por noite era o suficiente para repor as energias além de aproveitar melhor o dia. Até este período, os estudos científicos não comprovavam a importância do sono e principalmente a qualidade do sono.
Cientistas e médicos revelam que é durante o sono que o organismo produz os hormônios do crescimento que possibilitam o rejuvenescimento e a renovação celular. O sono é fundamental para que possamos memorizar acontecimentos do dia-a-dia, reforçando assim o que foi aprendido e sendo peça chave na aprendizagem.
Pesquisas feita pelos israelenses Dov Sagi e Avi Karni, em 1993, e confirmadas pelos norte-americanos Allan Hobson e Robert Stickgold, comprovaram que o sono profundo, durante a primeira metade da noite, é essencial para a consolidação do aprendizado.
Mônica Andersen, biomédica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acompanhou o comportamento de ratos mantidos acordados por quatro dias seguidos, sendo seu objetivo inicial investigar a origem da agressividade e da agitação decorrentes da falta de sono. A partir dos experimentos, Mônica observou alguns aspectos curiosos, no qual os ratos passaram a ter ereção espontânea mesmo sem nenhuma rata por perto, isso porque a privação do sono afeta o funcionamento do sistema nervoso a uma área associada ao prazer. Além disso, Mônica testou se drogas como cocaína, maconha e as anfetaminas de fato melhoram o desempenho sexual, como dizem seus usuários. De fato houve um aumento no número de ereções nos ratos, mas isso só é aparentemente benéfico, pois o uso contínuo de cocaína causa impotência sexual e a privação prolongada do sono gera um desequilíbrio bioquímico no organismo capaz de levar à morte.
A dor também interfere de maneira significativa no sono. De acordo com a médica reumatologista Suely Roizenblatt, a relação entre dor e qualidade do sono é uma via de mão dupla: a dor pode atrapalhar o sono, mas as alterações no sono também parecem aumentar a sensibilidade à dor. Em ambos os casos, o resultado é sempre uma intensa sensação de cansaço durante o dia seguinte, mesmo que a pessoa tenha dormido um número de horas suficiente para repor as energias.
Em situações de estresse, como, por exemplo, dias tumultuados no trabalho, acaba prejudicando o organismo de maneira que este reage através de uma rápida liberação de corticóides, hormônios que aceleram a produção de energia e ajudam a manter o corpo em alerta. Isso nos ajuda a entender porque as pessoas ficam sonolentas no dia seguinte àquele em que enfrentaram uma situação estressante. Uma noite mal dormida ecoa por todo o corpo e podem provocar lesões em alguns órgãos, como o fígado e coração.
Será a qualidade do sono transmitida hereditariamente?
Segundo cientistas da Universidade de Lausanne, na Suíça, isso é verídico, pois identificaram pela primeira vez um gene relativo ao “sono normal”, publicado na revista Science. Os pesquisadores também estabeleceram que a vitamina A influi na qualidade do sono, embora não tenha sido possível determinar se é o seu excesso ou sua falta que perturba o sono.
A equipe de cientistas estudou em ratos a atividade delta, que mede a profundidade do sono mediante um eletroencefalograma. No ser humano, esta atividade diminui com a idade, o que explica por que as crianças dormem profundamente e se recuperam durante o sono, enquanto em geral os idosos não dormem tão bem.
O estudo feito em ratos prova que o excesso de vitamina A é ruim para o sono, mas os cientistas ignoram as conseqüências da falta desta vitamina no organismo. “Nós não sabemos exatamente qual é a taxa necessária”, admitiu o pesquisador Mehdi Tafti, líder do estudo. Ele lembrou que a vitamina A pode ser tóxica, sobretudo para as mulheres grávidas.
Através desses estudos, conclui-se que a qualidade do sono interfere de maneira significativa no nosso organismo, tanto podemos nos beneficiar se tivermos uma qualidade saudável de sono ou nos prejudicar se passarmos por noites mal dormidas. Portanto, devemos nos dar ao luxo de pelo menos 8 horas nos desligarmos de tudo e deixar que somente os sonhos interfiram na nossa noite.
“Deus abençoe o inventor do sono, a capa que cobre os pensamentos do homem…o peso que nivela o servo com o rei e o simples com o sábio.”
Miguel de Cervantes (Dom Quixote)